quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Universo Waldorf do brinquedo

Karin Evelin Scheven é uma alemã, radicada no Brasil e uma das pioneiras dos brinquedos Waldorf no país. É autora de um importante livro sobre bonecas e o brincar na visão da Pedagogia Waldorf: Minha Querida Boneca.


Logo após começar a estudar Pedagogia Waldorf, conheci Karin Evelin.


Ingenuamente, levei para ela uma de minhas fadas. A exemplo do que havia feito, muitos meses antes, a dona do Além da Lenda, ela ficou com a boneca na mão enquanto conversava comigo.


No entanto, lembro-me como se fosse agora, disse com todas as letras: "Isso não vale nada".


Se eu fosse outra pessoa, teria desistido ali mesmo. No entanto, humildemente, pedi um estágio em sua oficina. Consegui uma semana trabalhando junto com as demais montadoras.


Na data marcada, com frio na barriga, fui para o estágio. Antes de começar, a gerente me chamou para acertar. Eu não sabia, mas fui informada que teria de pagar por aquela semana de trabalho voluntário (o equivalente ao meu carro na época), sem direito às refeições que eram servidas na própria oficina. Se quisesse almoçar, o valor subiria.


Imaginem a cara da pobrezinha da ex-executiva da comunicação que, há pouco mais de um ano, havia optado pelo estilo de vida "simplicidade voluntária" e que estava vivendo de workshops de danças circulares e bonecas.


Resumo: agradeci envergonhada e me despedi.


Ao contrário do esperado, não desisti da Pedagogia Waldorf nem de suas bonecas.


Lutei sozinha até conseguir fazer uma boneca "encarnada", que fosse saudável para a criança e que representasse um ser humano terreno, forte, equilibrado e que deixasse transparecer sua "alma".


Essa conquista, essa busca pela força encarnatória, é que tento passar para minhas alunas nas oficinas da Boneca Waldorf.


Quanto à frase "Isso não vale nada", proferida de forma infeliz por Karin, mais de uma década depois de ouvi-la, eu estava em Juiz de Fora, no Seminário Floresta, para fazer um módulo de Pedagogia Waldorf com os formandos do curso para professores e médicos  ministrado pelo Gaia, do Rio de Janeiro, quando uma conhecida sentou ao meu lado no refeitório na hora do jantar, e disse que queria me contar uma história interessante.


Ela falou que anos atrás estava na casa de uma prima quando viu uma bonequinha com os dizeres: "Acontece o que a gente tece" em uma etiqueta.
Ficou muito impressionada e pensou: "deve ter alguma coisa na essência dessa boneca". Ficou com aquela impressão forte e, a partir dali, começou a pesquisar o que teria na "alma" daquela boneca e encontrou a Pedagogia Waldorf.


Esse encontro com a Pedagogia, segundo me narrava, foi tão forte que ela começou a fazer o seminário e tornou-se professora de jardim em uma importante escola Waldorf.


E completou: aquela boneca de anos atrás, no início de tudo, era uma boneca sua e, agora, eu estou aqui me formando professora Waldorf e você está ao meu lado.


Tornou-se uma das minhas mais queridas amigas.


Tudo vale a pena, quando a alma...




Nas fotos, a boneca que nos lembra que "Acontece o que a gente tece".