terça-feira, 24 de novembro de 2009

A número um


As palavras-chave foram: "fadas tem pernas looongas", ditas de passagem por minha irmã.

Com essas palavras, a número um nasceu pronta.

Parecia que eu havia encontrado um fluxo energético. A coceira nas mãos de antes virou inspiração e produção. Em poucos dias eu havia feito várias fadas com retalhos de tecidos, brocados, tules.

Fiz uma inteiramente dourada, coloquei-as em uma caixa de presente e resolvi oferecer na Rua Oscar Freire, um ponto central do comércio sofisticado de São Paulo.

Na época, eu tinha uma moto, prendi com as aranhas a caixa de presente e saí em direção aos Jardins.

Na Oscar Freire, vi uma loja com uma fachada que me atraiu: uma casa de contos de fadas. Parei e resolvi pedir para falar com a dona e, por incrível que pareça, ela me atendeu.

Enquanto esperava, tomei conhecimento de um outro universo: o incrível mundo das representações do plano espiritual.

Era moda na época: bruxas, fadas, gnomos, elementais de toda a espécie, cristais, runas, tarô.

Uma salada mista de imagens e significados do qual a ALÉM DA LENDA (esse era o nome da loja onde eu estava) era o centro.

A dona, uma jovem bonita e forte, me atendeu, escutou a minha estranha história sobre "coceira nas mãos", viu as fadas e, enquanto me ouvia, ficou com a fada dourada nas mãos.

Quando terminei de falar, perguntou quanto era, eu, sem saber, disse vinte dólares, uma pequena fortuna na época para o preço de uma boneca de 30 cm, algo como 150 reais hoje.

Ela falou: "Vou ficar com essa, te pago agora e quero mais 28".

Fiquei um pouco paralisada, muito paralisada. Agradeci e nem me atrevi a perguntar por que 28. Seria algum número especial? Estou sem saber até hoje.

Voltei para a casa, contei o que havia acontecido, minha irmã foi até a estante, pegou uma Revista Veja e me mostrou onde eu havia estado: na revista, uma matéria de destaque informava sobre o boom da Além da Lenda.

Foi assim, em um movimento tipo sonho/sorte que o Nina Veiga Atelier começou.